Faz quase três anos que não escrevo
poemas, abandono-me, apenas leio;
não me cultivo nem me informo. Sinto
dentro de mim uma espécie de vazio
que avança - e não me assusta - como um rio
de lava; ou melhor, como um deserto
que vai ganhando mais e mais terreno
ao calcinado bosque, ontem tão vivo.
Sonho pouco. Desejo o necessário.
Não tenho nada, e nada de extraordinário
espero doravante. Não disfruto
do prazer de viver. Observo a vida
com reserva e distância. Cada dia
me consentem os anos menos fantasias.