terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Tom Baril - Two Roses

Fernando Pessoa - O MENINO DE SUA MÃE

No plaino abandonado
Que a morna brisa aquece,
De balas trespassado
- Duas, de lado a lado -,
Jaz morto, e arrefece

Doía-lhe a fundo o sangue
De braços estendido
Alvo, louro, exangue,
Fita com olhar langue
E cego aos céus perdidos.

Tão jovem! Que jovem era!
(Agora que idade tem?)
filho único, a mãe lhe dera
Um nome e o mantivera:
«o menino de sua mãe:»

Caiu-lhe da algibeira
A cigarreira breve
Dera-lhe a mãe. Está inteira
E boa a cigarreira
Ele é que já não serve

Da outra algibeira, alada
Ponta a roçar o solo,
A brancura embainhada.
De um lenço… deu-lhe a criada
Velha que o trouxe ao colo.

Lá longe, em casa, há a prece:
«Que volte cedo, e bem!»
(Malhas que o Império tece!)
Jaz morto, e apodrece,
O menino de sua mãe.

Clara Menéres - o menino de sua mãe