sexta-feira, 30 de abril de 2010
quinta-feira, 29 de abril de 2010
Herberto Helder - Aos Amigos
Amo devagar os amigos que são tristes
com cinco dedos de cada lado.
Os amigos que enlouquecem
e estão sentados,
fechando os olhos,
com os livros atrás a arder
para toda a eternidade.
Não os chamo,
E eles voltam~se profundamente
Dentro do fogo.
- Temos um talento doloroso e obscuro.
Construímos um lugar de silêncio.
De paixão
com cinco dedos de cada lado.
Os amigos que enlouquecem
e estão sentados,
fechando os olhos,
com os livros atrás a arder
para toda a eternidade.
Não os chamo,
E eles voltam~se profundamente
Dentro do fogo.
- Temos um talento doloroso e obscuro.
Construímos um lugar de silêncio.
De paixão
quarta-feira, 28 de abril de 2010
Hal Sirowitz - O meu peixinho dourado morto
Eu queria ter um jacaré como animal de estimação,
mas os meus pais arranjaram-me um peixinho dourado.
Quando ele morreu a minha mãe atirou-o pela sanita abaixo.
Disse-me que se o enterrássemos no jardim
um gato poderia desenterrá-lo & comê-lo.
Fiquei danado foi com o meu pai por usar a casa-de-banho
dez minutos depois do funeral.
Ela não tinha respeito nenhum pelos mortos.
mas os meus pais arranjaram-me um peixinho dourado.
Quando ele morreu a minha mãe atirou-o pela sanita abaixo.
Disse-me que se o enterrássemos no jardim
um gato poderia desenterrá-lo & comê-lo.
Fiquei danado foi com o meu pai por usar a casa-de-banho
dez minutos depois do funeral.
Ela não tinha respeito nenhum pelos mortos.
terça-feira, 27 de abril de 2010
segunda-feira, 26 de abril de 2010
domingo, 25 de abril de 2010
Roger Wolfe - Pálpebra
Pedro Salinas
disse num poema
que não quer deixar de sentir
a dor da ausência
da mulher que ama
porque isso é tudo
o que dela fica:
a dor.
Não me recordo das suas palavras exactas.
Ele di-lo melhor do que eu.
Eram outros tempos.
Salinas está morto.
A mulher que ele amava também.
Em breve o estaremos todos.
A vida é uma simples pálpebra.
Abre os olhos
e fecha-os.
disse num poema
que não quer deixar de sentir
a dor da ausência
da mulher que ama
porque isso é tudo
o que dela fica:
a dor.
Não me recordo das suas palavras exactas.
Ele di-lo melhor do que eu.
Eram outros tempos.
Salinas está morto.
A mulher que ele amava também.
Em breve o estaremos todos.
A vida é uma simples pálpebra.
Abre os olhos
e fecha-os.
sábado, 24 de abril de 2010
Javier Salvago - Tesouro divino
A juventude passou.
Bem está o que acabou.
Não voltaria a ser jovem
nem que mo pagassem.
Pôr-me a andar de novo
pelo caminho trilhado
dos sonhos ilusórios
e das vagas verdades?
Começar outra vez
as velhas batalhas
e as suas velhas feridas?
Voltar às caminhadas
pela noite, pelo inferno,
ao gosto pela má
vida? Fazer de tudo,
que é comédia, um drama?
Voltar a alimentar-me
de mitos e falácias,
de modas e frenesim,
de palavras gastas?
Carregar aos ombros
a fastidiosa carga
de ser interessante,
original?... Que disparate!
Confiar, como ontem,
na vã esperança
de que tudo será
melhor amanhã?
Ter toda a vida
pela frente - tão longa -,
e o que já passou
não ser nem metade?
A juventude foi-se.
Fica bem o que acaba.
Não voltarei a ser jovem,
graças a Deus.
Bem está o que acabou.
Não voltaria a ser jovem
nem que mo pagassem.
Pôr-me a andar de novo
pelo caminho trilhado
dos sonhos ilusórios
e das vagas verdades?
Começar outra vez
as velhas batalhas
e as suas velhas feridas?
Voltar às caminhadas
pela noite, pelo inferno,
ao gosto pela má
vida? Fazer de tudo,
que é comédia, um drama?
Voltar a alimentar-me
de mitos e falácias,
de modas e frenesim,
de palavras gastas?
Carregar aos ombros
a fastidiosa carga
de ser interessante,
original?... Que disparate!
Confiar, como ontem,
na vã esperança
de que tudo será
melhor amanhã?
Ter toda a vida
pela frente - tão longa -,
e o que já passou
não ser nem metade?
A juventude foi-se.
Fica bem o que acaba.
Não voltarei a ser jovem,
graças a Deus.
sexta-feira, 23 de abril de 2010
quinta-feira, 22 de abril de 2010
Konstandinos Kavafis - Um Velho
No café no lugar de dentro na zoeira turva
senta-se um velho na mesa se curva;
com um jornal diante dele, sem companhia.
E no desdém da velhice miserável
pensa como usou tão pouco o tempo deleitável
em que força, e eloquência, e beleza possuía.
Sabe que envelheceu muito; sente-o, é visível.
E contudo o tempo em que era novo ao mesmo nível
do de ontem. Que espaço apressado, que espaço apressado.
E considera como burlava dele a Prudência;
e como nela tinha confiança sempre - que demência! -
a perjura que dizia: «Amanhã. O tempo é demorado».
Lembra-se de impulsos a que punha freio; e sem medida
a alegria que sacrificava. Cada história perdida
agora troça da sua desmiolada sageza.
. . . . Mas do muito que foi pensando e não esquece
o velho atordoou-se. E adormece
no café apoiado sobre a mesa.
senta-se um velho na mesa se curva;
com um jornal diante dele, sem companhia.
E no desdém da velhice miserável
pensa como usou tão pouco o tempo deleitável
em que força, e eloquência, e beleza possuía.
Sabe que envelheceu muito; sente-o, é visível.
E contudo o tempo em que era novo ao mesmo nível
do de ontem. Que espaço apressado, que espaço apressado.
E considera como burlava dele a Prudência;
e como nela tinha confiança sempre - que demência! -
a perjura que dizia: «Amanhã. O tempo é demorado».
Lembra-se de impulsos a que punha freio; e sem medida
a alegria que sacrificava. Cada história perdida
agora troça da sua desmiolada sageza.
. . . . Mas do muito que foi pensando e não esquece
o velho atordoou-se. E adormece
no café apoiado sobre a mesa.
quarta-feira, 21 de abril de 2010
terça-feira, 20 de abril de 2010
segunda-feira, 19 de abril de 2010
Karmelo Iribarren - A alba
Aquele lugar inóspito
fantasmal
frio
onde nunca
tinhas um cigarro
e os táxis
iam sempre
na direcção oposta.
fantasmal
frio
onde nunca
tinhas um cigarro
e os táxis
iam sempre
na direcção oposta.
domingo, 18 de abril de 2010
sábado, 17 de abril de 2010
sexta-feira, 16 de abril de 2010
Jack Agüeros - Salmo pelas mulheres
Senhor,
obrigado por teres feito as mulheres.
Obrigado por me teres dado olhos
para as olhar, nariz para as cheirar,
dedos para folhear lentamente as suas páginas,
língua para as saborear,
doces momentos para enlearmos os nossos pêlos encaracolados.
Obrigado por as teres feito
como o melhor dos géneros,
por as teres dotado com uma inteligência
que eu nunca compreendi.
E, Senhor, escuta,
pessoalmente eu não acredito no pecado,
mas por favor perdoa-me
se alguma vez fiz mal a uma mulher.
obrigado por teres feito as mulheres.
Obrigado por me teres dado olhos
para as olhar, nariz para as cheirar,
dedos para folhear lentamente as suas páginas,
língua para as saborear,
doces momentos para enlearmos os nossos pêlos encaracolados.
Obrigado por as teres feito
como o melhor dos géneros,
por as teres dotado com uma inteligência
que eu nunca compreendi.
E, Senhor, escuta,
pessoalmente eu não acredito no pecado,
mas por favor perdoa-me
se alguma vez fiz mal a uma mulher.
quinta-feira, 15 de abril de 2010
quarta-feira, 14 de abril de 2010
Ruy Belo - UMA PEQUENA PÁTRIA
Não achas que a esplanada é uma pequena pátria
a que somos fieis? Sentamo-nos aqui como quem nasce
a que somos fieis? Sentamo-nos aqui como quem nasce
segunda-feira, 12 de abril de 2010
domingo, 11 de abril de 2010
sábado, 10 de abril de 2010
sexta-feira, 9 de abril de 2010
Gonçalo M. Tavares - Poesia
Construíram uma prisão cujos limites exteriores eram redes onde, através da torção dos arames, se encontravam escritos alguns dos mais belos poemas dos principais poetas do país.
Essa rede de versos que contornava toda a prisão era eléctrica: quem a tocasse apanharia um choque mortal.
Essa rede de versos que contornava toda a prisão era eléctrica: quem a tocasse apanharia um choque mortal.
quinta-feira, 8 de abril de 2010
António Ramos Rosa - Vi-lhe os flancos delicados
Vi-lhe os flancos delicados
como se tocasse o nome
de um navio.
Eram sílabas talvez de um verso puro
ou a dócil matéria
firme
de uma ilha adolescente.
Entre um círculo de ramos
vi-lhe a tímida luz do rosto
e as duas pequenas luas dos seus seios
que estavam vivos e novos
no eléctrico pudor do seu desejo.
Vi-lhe tremer os lábios
como se quisesse suster a iminência
de um gesto eloquente
e ser apenas o murmúrio de uma folha
contra as cálidas palavras
que eu corria o risco de dizer.
como se tocasse o nome
de um navio.
Eram sílabas talvez de um verso puro
ou a dócil matéria
firme
de uma ilha adolescente.
Entre um círculo de ramos
vi-lhe a tímida luz do rosto
e as duas pequenas luas dos seus seios
que estavam vivos e novos
no eléctrico pudor do seu desejo.
Vi-lhe tremer os lábios
como se quisesse suster a iminência
de um gesto eloquente
e ser apenas o murmúrio de uma folha
contra as cálidas palavras
que eu corria o risco de dizer.
quarta-feira, 7 de abril de 2010
terça-feira, 6 de abril de 2010
MIGUEL-MANSO - EM ÉVORA, UM TERRAÇO
quando o nível das águas subir
(não se sabe ainda quantos metros)
e se apagarem certos lugares: a sombra
do limoeiro da infância
a praia onde todo o Verão cabia
e terminar submerso tudo o que foi raso e sacro
então que pelo menos permaneça intacto
aquele terraço em Évora
(não se sabe ainda quantos metros)
e se apagarem certos lugares: a sombra
do limoeiro da infância
a praia onde todo o Verão cabia
e terminar submerso tudo o que foi raso e sacro
então que pelo menos permaneça intacto
aquele terraço em Évora
segunda-feira, 5 de abril de 2010
domingo, 4 de abril de 2010
Antonio Gamoneda - Amor
Mi manera de amarte es sencilla:
te aprieto a mí
como si hubiera un poco de justicia en mi corazón
y yo te la pudiese dar con el cuerpo.
Cuando revuelvo tus cabellos
algo hermoso se forma entre mis manos.
Y casi no sé más. Yo sólo aspiro
a estar contigo en paz y a estar en paz
con un deber desconocido
que a veces pesa también en mi corazón.
te aprieto a mí
como si hubiera un poco de justicia en mi corazón
y yo te la pudiese dar con el cuerpo.
Cuando revuelvo tus cabellos
algo hermoso se forma entre mis manos.
Y casi no sé más. Yo sólo aspiro
a estar contigo en paz y a estar en paz
con un deber desconocido
que a veces pesa también en mi corazón.
sábado, 3 de abril de 2010
Pablo Neruda - JILGUERO
Entre los álamos pasó
Un pequeño Dios amarillo:
Veloz viajaba con el viento
Y dejó en la altura un temblor,
Una flauta de piedra pura,
Un hilo de agua vertical,
El violín de la primavera:
Como una pluma en una ráfaga
Pasó, pequeña criatura
Pulso del día, polvo, polen,
Nada tal vez, pero temblando
Quedó la luz, el día, el oro.
Un pequeño Dios amarillo:
Veloz viajaba con el viento
Y dejó en la altura un temblor,
Una flauta de piedra pura,
Un hilo de agua vertical,
El violín de la primavera:
Como una pluma en una ráfaga
Pasó, pequeña criatura
Pulso del día, polvo, polen,
Nada tal vez, pero temblando
Quedó la luz, el día, el oro.
sexta-feira, 2 de abril de 2010
PEDRO MEXIA - TRÊS TEORIAS
As nuvens desenham figuras.
O céu em volta das nuvens desenha figuras.
Os olhos desenham sempre figuras no céu.
O céu em volta das nuvens desenha figuras.
Os olhos desenham sempre figuras no céu.
quinta-feira, 1 de abril de 2010
Subscrever:
Mensagens (Atom)