domingo, 28 de fevereiro de 2010
sábado, 27 de fevereiro de 2010
sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010
quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010
Jorge Luís Borges - O Cúmplice
Crucificam-me e eu tenho de ser a cruz e os pregos.
Estendem-me a taça e eu tenho de ser a cicuta.
Enganam-me e eu tenho de ser a mentira.
Incendeiam-me e eu tenho de ser o inferno.
Tenho de louvar e de agradecer cada instante do tempo.
O meu alimento é todas as coisas.
O peso exacto do universo, a humilhação, o júbilo.
Tenho de justificar o que me fere.
Não importa a minha felicidade ou infelicidade.
Sou o poeta.
Estendem-me a taça e eu tenho de ser a cicuta.
Enganam-me e eu tenho de ser a mentira.
Incendeiam-me e eu tenho de ser o inferno.
Tenho de louvar e de agradecer cada instante do tempo.
O meu alimento é todas as coisas.
O peso exacto do universo, a humilhação, o júbilo.
Tenho de justificar o que me fere.
Não importa a minha felicidade ou infelicidade.
Sou o poeta.
quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010
terça-feira, 23 de fevereiro de 2010
Fernando Pessoa - O MENINO DE SUA MÃE
No plaino abandonado
Que a morna brisa aquece,
De balas trespassado
- Duas, de lado a lado -,
Jaz morto, e arrefece
Doía-lhe a fundo o sangue
De braços estendido
Alvo, louro, exangue,
Fita com olhar langue
E cego aos céus perdidos.
Tão jovem! Que jovem era!
(Agora que idade tem?)
filho único, a mãe lhe dera
Um nome e o mantivera:
«o menino de sua mãe:»
Caiu-lhe da algibeira
A cigarreira breve
Dera-lhe a mãe. Está inteira
E boa a cigarreira
Ele é que já não serve
Da outra algibeira, alada
Ponta a roçar o solo,
A brancura embainhada.
De um lenço… deu-lhe a criada
Velha que o trouxe ao colo.
Lá longe, em casa, há a prece:
«Que volte cedo, e bem!»
(Malhas que o Império tece!)
Jaz morto, e apodrece,
O menino de sua mãe.
Que a morna brisa aquece,
De balas trespassado
- Duas, de lado a lado -,
Jaz morto, e arrefece
Doía-lhe a fundo o sangue
De braços estendido
Alvo, louro, exangue,
Fita com olhar langue
E cego aos céus perdidos.
Tão jovem! Que jovem era!
(Agora que idade tem?)
filho único, a mãe lhe dera
Um nome e o mantivera:
«o menino de sua mãe:»
Caiu-lhe da algibeira
A cigarreira breve
Dera-lhe a mãe. Está inteira
E boa a cigarreira
Ele é que já não serve
Da outra algibeira, alada
Ponta a roçar o solo,
A brancura embainhada.
De um lenço… deu-lhe a criada
Velha que o trouxe ao colo.
Lá longe, em casa, há a prece:
«Que volte cedo, e bem!»
(Malhas que o Império tece!)
Jaz morto, e apodrece,
O menino de sua mãe.
segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010
Po Chu-I - Os filósofos: Lao-Tzu
"Aqueles que falam nada sabem:
Aqueles que sabem permanecem em silêncio."
Estas palavras, disseram-me,
Foram pronunciadas por Lao-Tzu;
Se acreditarmos que Lao-Tzu
Foi ele próprio um daqueles que sabiam,
Como explicar que tivesse escrito um livro
De cinco mil palavras?
Aqueles que sabem permanecem em silêncio."
Estas palavras, disseram-me,
Foram pronunciadas por Lao-Tzu;
Se acreditarmos que Lao-Tzu
Foi ele próprio um daqueles que sabiam,
Como explicar que tivesse escrito um livro
De cinco mil palavras?
domingo, 21 de fevereiro de 2010
sábado, 20 de fevereiro de 2010
sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010
Ana Hatherly - O que é o espaço?
O que é o espaço
senão o intervalo
por onde
o pensamento desliza
imaginando imagens?
O biombo ritual da invenção
oculta o espaço intermédio
o interstício
onde a percepção se refracta
Pelas imagens
entramos em diálogo
com o indizível
in O Pavão Negro
Assírio & Alvim
2003
senão o intervalo
por onde
o pensamento desliza
imaginando imagens?
O biombo ritual da invenção
oculta o espaço intermédio
o interstício
onde a percepção se refracta
Pelas imagens
entramos em diálogo
com o indizível
in O Pavão Negro
Assírio & Alvim
2003
quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010
quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010
Raymond Carver - MINHA MULHER
Minha mulher desapareceu com a roupa toda.
Esqueceu duas meias de nailon e
uma escova de cabelo atrás da cama.
Eu queria chamar-lhe a atenção
para as meias e para os cabelos
negros agarrados aos dentes da escova.
As meias atiro-as ao balde do lixo; a escova
guardo-a para usá-la. A cama é que
eu estranho e não posso suportar.
Esqueceu duas meias de nailon e
uma escova de cabelo atrás da cama.
Eu queria chamar-lhe a atenção
para as meias e para os cabelos
negros agarrados aos dentes da escova.
As meias atiro-as ao balde do lixo; a escova
guardo-a para usá-la. A cama é que
eu estranho e não posso suportar.
terça-feira, 16 de fevereiro de 2010
segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010
domingo, 14 de fevereiro de 2010
sábado, 13 de fevereiro de 2010
José Luís Peixoto - Limpar o pó
Como se ontem e os dias antes de ontem
se tivessem desfeito sobre as prateleiras,
como se pudéssemos escrever palavras
nas suas cinzas com a ponta do dedo,
como se bastasse soprar para vermos
as suas imagens, de novo, numa nuvem.
se tivessem desfeito sobre as prateleiras,
como se pudéssemos escrever palavras
nas suas cinzas com a ponta do dedo,
como se bastasse soprar para vermos
as suas imagens, de novo, numa nuvem.
sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010
quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010
terça-feira, 9 de fevereiro de 2010
Ruy Belo - DESENCANTO DOS DIAS
Não era afinal isto que esperávamos
Não era este o dia
Que movimentos nos consente?
Ah ninguém sabe
como ainda és possível poesia
neste país onde nunca ninguém viu
aquele grande dia diferente
Não era este o dia
Que movimentos nos consente?
Ah ninguém sabe
como ainda és possível poesia
neste país onde nunca ninguém viu
aquele grande dia diferente
segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010
José Miguel Silva - DIZIAS QUE GOSTAVAS
Dizias que gostavas de poemas.
Escrevi-te, numa tarde, mais de cinco.
São muito bonitos, disseste,
hei-de mostrá-los ao meu namorado.
Nunca mais confiei nos versos
nem no gosto feminil.
de "Vista de Um Pátio seguido de Desordem", Relógio d'Água, Lisboa, 2003
Escrevi-te, numa tarde, mais de cinco.
São muito bonitos, disseste,
hei-de mostrá-los ao meu namorado.
Nunca mais confiei nos versos
nem no gosto feminil.
de "Vista de Um Pátio seguido de Desordem", Relógio d'Água, Lisboa, 2003
domingo, 7 de fevereiro de 2010
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