quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

domingo, 27 de dezembro de 2009

Juan Luis Panero - Arte poética

A comprida, vagarosa língua da morte

lambeu a mão daquele que escreve,

lucidez ou loucura, ninguém sabe:

só restam palavras, palavras roídas.




in "Antes que Chegue a Noite"

Jarik Jongman - Phenomena

Imogem Cunningham - Magnolia Blossom

sábado, 26 de dezembro de 2009

Yes - And You And I - live

Bertold Brecht - O «Ensina-me»

Quando era novo, mandei fazer numa tábua
A canivete e nanquim a figura dum velho
A coçar-se no peito por causa da sarna
Mas de olhar implorativo porque esperava que o ensinassem.
Uma segunda tábua pra o outro canto do quarto,
Que devia representar um moço a ensiná-lo,
Nunca mais foi feita.

Quando era novo tinha a esperança
De encontrar um velho que se deixasse ensinar.
Quando for velho, espero
Que se encontre um moço e eu
Me deixe ensinar.

in 'Lendas, Parábolas, Crónicas, Sátiras e outros Poemas'
Tradução de Paulo Quintela

IRA KORMAN - The Alchemist

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Frans Hals

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

sábado, 19 de dezembro de 2009

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Sophia de Mello Breyner - Che Guevara

Contra ti se ergueu a prudência dos inteligentes e o arrojo dos patetas

A indecisão dos complicados e o primarismo
Daqueles que confundem revolução com desforra

De poster em poster a tua imagem paira na sociedade de consumo

Como o Cristo em sangue paira no alheamento ordenado das igrejas


Porém
Em frente do teu rosto
Medita o adolescente à noite no seu quarto
Quando procura emergir de um mundo que apodrece


in "O Nome das Coisas"

mantegna - cristo

Nathalie Cardone - Hasta Siempre

Holbein - christ

alberto korda - che guevara

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Salvador Dali - Sleep

Gastão Cruz - O Caos do Sonho

Estou deitado no sonho não
perturbes o caos que me constrói
Afasta a tua mão

das pálpebras molhadas
Debaixo delas passa
a água das imagens


in "Órgão de Luzes"

Bernardo Sassetti - Sonho dos Outros

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Poetas Andaluces, ¿Qué será de tí?, Rafael Alberti

Rafael Alberti - Balada para los Poetas Andaluces de Hoy

¿Qué cantan los poetas andaluces de ahora?
¿Qué miran los poetas andaluces de ahora?
¿Qué sienten los poetas andaluces de ahora?

Cantan con voz de hombre, ¿pero dónde los hombres?
con ojos de hombre miran, ¿pero dónde los hombres?
con pecho de hombre sienten, ¿pero dónde los hombres?

Cantan, y cuando cantan parece que están solos.
Miran, y cuando miran parece que están solos.
Sienten, y cuando sienten parecen que están solos.

¿Es que ya Andalucía se ha quedado sin nadie?
¿Es que acaso en los montes andaluces no hay nadie?
¿Que en los mares y campos andaluces no hay nadie?

¿No habrá ya quien responda a la voz del poeta?
¿Quién mire al corazón sin muros del poeta?
¿Tantas cosas han muerto que no hay más que el poeta?

Cantad alto. Oiréis que oyen otros oídos.
Mirad alto. Veréis que miran otros ojos.
Latid alto. Sabréis que palpita otra sangre.

No es más hondo el poeta en su oscuro subsuelo.
encerrado. Su canto asciende a más profundo
cuando, abierto en el aire, ya es de todos los hombres

Aguaviva - Poetas Andaluces

A 3D Exploration of Picasso's Guernica

A galopar - Paco Ibáñez y Rafael Alberti

rafael alberti - A GALOPAR

Las tierras, las tierras, las tierras de España,
las grandes, las solas, desiertas llanuras.
Galopa, caballo cuatralbo,
jinete del pueblo,
al sol y a la luna.

¡A galopar,
a galopar,
hasta enterrarlos en el mar!

A corazón suenan, resuenan, resuenan
las tierras de España, en las herraduras.
Galopa, jinete del pueblo,
caballo cuatralbo,
caballo de espuma.

¡A galopar,
a galopar,
hasta enterrarlos en el mar!

Nadie, nadie, nadie, que enfrente no hay nadie;
que es nadie la muerte si va en tu montura.
Galopa, caballo cuatralbo,
jinete del pueblo,
que la tierra es tuya.

¡A galopar,
a galopar,
hasta enterrarlos en el mar!

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Hilda Hilst - De tanto te pensar, me veio a ilusão

De tanto te pensar, me veio a ilusão.
A mesma ilusão
Da égua que sorve a água pensando sorver a lua.
De te pensar me deito nas aguadas
E acredito luzir e estar atada
Ao fulgor do costado de um negro cavalo de cem luas.
De te sonhar, tenho nada,
Mas acredito em mim o ouro e o mundo.
De te amar, possuída de ossos e abismos
Acredito ter carne e vadiar
Ao redor dos teus cismos. De nunca te tocar
Tocando os outros
Acredito ter mãos, acredito ter boca
Quando só tenho patas e focinho.
De muito desejar altura e eternidade
Me vem a fantasia de que Existo e Sou.
Quando sou nada: égua fantasmagórica
Sorvendo a lua n'água.

Yo-Yo Ma plays the prelude from Bach´s Cello Suite No. 1

Dominic Rouse - Grace & Beauty

Dominic Rouse - Once a Catholic

sábado, 12 de dezembro de 2009

Mario Benedetti - DOS AFECTOS

Como fazer-te saber que há sempre tempo?

Que temos que buscá-lo e dá-lo…
Que ninguém estabelece normas, senão a vida…
Que a vida sem certas normas perde formas…
Que a forma não se perde com abrirmo-nos…
Que abrirmo-nos não é amar indiscriminadamente…
Que não é proibido amar…
Que também se pode odiar…
Que a agressão porque sim, fere muito…
Que as feridas fecham-se…
Que as portas não devem fechar-se…
Que a maior porta é o afecto…
Que os afectos definem-nos…
Que definir-se não é remar contra a corrente…
Que não quanto mais se carrega no traço mais se desenha…
Que negar palavras é abrir distâncias…
Que encontrar-se é lindo…
Que o sexo faz parte da lindeza da vida…
Que a vida parte do sexo…
Que o porquê das crianças tem o seu porquê…
Que querer saber de alguém não é só curiosidade…
Que saber tudo de todos é curiosidade malsã…
Que nunca é demais agradecer…
Que autodeterminação não é fazer as coisas sozinho…
Que ninguém quer estar só…
Que para não estar só há que dar…
Que para dar devemos antes receber…
Que para nos darem há também que saber pedir…
Que saber pedir não é oferecer-se…
Que oferecer-se, em definitivo, não é querer-se…
Que para nos quererem devemos mostrar quem somos…
Que para alguém ser é preciso dar-lhe ajuda…
Que ajudar é poder dar ânimo e apoiar…
Que adular não é apoiar…
Que adular é tão pernicioso como virar a cara…
Que as coisas cara a cara são honestas…
Que ninguém é honesto por não roubar…
Que quando não se tira prazer das coisas não se vive…
Que para sentir a vida temos de esquecer que existe a morte…
Que se pode estar morto em vida…
Que sentimos com o corpo e a mente…
Que com os ouvidos se escuta…
Que custa ser sensível e não se ferir…
Que ferir-se não é sangrar…
Que para não nos ferirmos levantamos muros…
Que melhor seria fazer pontes…
Que por elas se vai à outra margem e ninguém volta…
Que voltar não implica retroceder…
Que retroceder também pode ser avançar…
Que não é por muito avançar que se amanhece mais perto do sol…

Como fazer-te saber que ninguém estabelece normas, senão a vida?

Paula Rego

Paula Rego

A dantesca casa de bonecas de Paula Rego

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

filipa leal

nos dias tristes não se fala de aves
liga-se aos amigos e eles não estão
e depois pede-se lume na rua
como quem pede um coração
novinho em folha.

nos dias tristes é inverno
e anda-se ao frio de cigarro na mão
a queimar o vento
e diz-se bom dia!
às pessoas que passam
depois de já terem passado
e de não termos reparado nisso

nos dias tristes fala-se sozinho
e há sempre uma ave que pousa
no cimo das coisas
em vez de nos pousar no coração
e não fala connosco.

Antoni Tàpies - Creu I R

Franz Kline - Merce C

Aaron Siskind - Lima 59 (Homage to Franz Kline)

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Aaron Siskind - fotografia

Francisco José Viegas

Despede-te de mim, bate devagar à porta:
tenho vontade de recomeçar, reerguer escombros,
ruínas, tarefas de pão e linho, não dar
nome às coisas senão o de um vago esquecimento,
abandono. Despede-te de mim como se a vida
recomeçasse agora, não me procures onde
a memória arde e o destino se ausenta.
tudo são banalidades, afinal, quando assim
se recomeça e a vida falha como um material
solar e ilhéu. Levamos poucas coisas, basta
um pouco de ar, os objectos fixos, em repouso,
os muros brancos de uma casa, o espaço
de uma mão. Arrumo as malas e os sinais,
aquilo que nos adormece em plena tempestade.


De amor de O medo do Inverno em Metade da Vida, Quasi edições,

Eduardo Luis

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Manuel Bandeira - O último poema

Assim eu quereria o meu último poema.
Que fosse terno dizendo as coisas mais simples e menos intencionais
Que fosse ardente como um soluço sem lágrimas
Que tivesse a beleza das flores quase sem perfume
A pureza da chama em que se consomem os diamantes mais límpidos
A paixão dos suicidas que se matam sem explicação.

Tord Gustavsen trio - GRACEFUL TOUCH

Vermeer

Vermeer